O GRITO D'ALMA

Amanheci sem sinal de ti,
Embargada na muda incerteza
Do calor de um reencontro.
Engasgada de súbita tristeza
Mantive tudo no mesmo lugar;
Crendo que fosses voltar
No dia seguinte a me chamar.

Esculpindo cada palavra
Com habitual empolgação
Antes de me entregá-las
Entalhadas em proporção
Idônea á minha semântica,
Cristalina e romântica
Com ação nossomântica.

Curando-me a ferida da alma
Provocada por minha incompatível
Existência com a sociedade
Alienada e corruptível,
Onde autênticos pensadores
Como eu, escrevem sobre suas dores
Evitando alardes e rumores.

Como lobos arredios e solitários
Até acharem a misteriosa trilha
De alguma fera semelhante,
Num soneto ou septilha
Com encriptação
Para única interpretação
De um escolhido coração.

O sábio destinatário
Que carrega em si a chave
Para socorrer a poeta
Cálida de respiração suave
Caída no meio da estrofe
Com olhar de quem sofre,
Coberta de aljofre.

Agonizando poeticamente
A inexplicavel ausência
De um admirável Príncipe,
Que leu quase toda a essência
D’alma turva da poeta
Numa noite secreta,
Em que a lua ficou quieta.

E quando novamente se moveu
Sacudiu o céu como um manto
Derrubando fugazes estrelas
Em forma de pranto
Causando grave rotura
Nas rima mais pura
Que já levou minha assinatura.

Preciso de agito
Para achar a minha calma,
Entre as notas do seu piano
E na antesala da alma
A valsa da alegria bailar.
Sem pressa de acabar,
Sem medo de tropeçar.









Comentários