POESIA DE OUTRO POETA



Um dia o poeta observou,
Que dentro dele nada havia...
Não havia folhas na copa das árvores,
Nem seiva em seu tronco lenhoso,
Sua casca se desfazia,
Seus pedaços estavam espalhados
Pelo chão,
Pelo vento,
Pelo campo,
Pelos seus arredores,
Perdera seus pedaços com o tempo,
Um aqui outro lá... E além
Impossível ajuntar novamente,
Sua sombra estava fria,
Seu coração vazio,
Seu pensamento sem rumo,
Seus olhos em lágrimas,
Totalmente vazio,
Esgotado,
Exausto,
Inútil,
Solitário,
Triste,
Ferido.

Suas raízes ainda resistem,
Algumas saltaram para fora,
Galhos partidos,
Retorcidos,
Tronco encurvado,
Apodrecendo...
O vento passa e ele não sente,
Não se importa se a chuva cai.
Pessoas riem ao seu redor,
Não para ele... Ninguém o vê.
Casais namoram ao seu redor,
Ele permanece sozinho,
Quieto e calado, sem movimento.
Observa de longe, e sente...
Seu sonho ainda existe,
Resiste á dor,
Ultrapassa sua tristeza,
Mas, adormece em seu peito.
Não tem como sair,
Não há para onde ir,
Não há nada... Só ele parado ali.

Seu silencio já esteve cantando,
Sua tristeza já esteve feliz,
Sua solidão já esteve acompanhada,
Seu coração quebrado já esteve inteiro.
Seus rabiscos já foram uma poesia.
Falou de amor...
Desejou amar...
Sentiu o amor... E
Nunca deixou de amar quem aprendeu.
Não deixou de acreditar,
Não desistiu,
Não se esqueceu,
Não apagou o que escreveu...
Dobrou seu sentimento e guardou.
Rasgou-se por inteiro,
Tentou colar-se sozinho,
Não ficou bom... Rasgou de novo.
Sentiu dor... Chorou,
Gritou, tentou desaparecer.
Arrastou-se sobre os estilhaços,
Coração sangrou... Parou.
Estancou a ferida e continuou.
Tentou viver...
Fingiu que estava bem,
Usou um sorriso para disfarçar a dor.
Não funcionou...
Não resistiu...
Quase morreu.
Ninguém veio ajudar.
Chorou até perder as forças,
Quase não tinha... Desfaleceu.
Apagou de repente,
Foi se o brilho de seus olhos.

Ouviu todas as musicas que o amor cantava,
Mas o coração não batia mais,
Não reagiu... Inanimado,
Não sentia fome, nem sede...
Não sentia calor nem frio,
Tudo estava vazio...
Um enorme espaço em branco,
Sombrio e solitário...
Confuso...
Misturou a noite e o dia,
Não via mais diferença...
Só horas vazias.
Tudo sem vida,
Tudo sem graça,
Tudo como antes do amor chegar...
Tudo parado,
Tudo sem sentido.
Tudo e ao mesmo tempo nada.
Queria o fim...
Mas não estava nem no começo.
Recomeçar de que jeito? Queria parar.
Voltar? Não tem essa opção.
Não podia fazer nada... Se pudesse faria tudo.
Trocaria tudo,
Tudo, tudo pelo amor.

Amar sem ser interrompido,
Abraçar sem parar,
Segurar uma mão firme,
Experimentar um beijo doce,
Declarar-se,
Denunciar seu coração,
Entregar-se por inteiro ao amor.
Sorrir sem motivo,
Motivar seus espectadores,
Passear... Viajar sem sair do lugar.
Ir a algum lugar só para fotografar
O amor sentado,
Fazendo gracinha,
Biquinho... Caras e bocas.
Brincar de se esconder,
Achar-se sem palavras,
Surpreso,
Amado,
Apaixonado,
Essencial,
Ser o pensamento de alguém,
Ser poesia de outro poeta.

Sentir o coração pulsar junto,
No mesmo ritmo,
Na mesma velocidade,
Do mesmo jeito,
Fazendo o mesmo som...
A mesma musica,
A mesma sensação,
O mesmo sonho,
A mesma vida... Apenas um.
Completo,
Inteiro,
Perfeito... Apenas amar.
Amar de um jeito poético,
Romântico,
Intenso,
Infinito,
Do jeito certo... Provocando
A felicidade proposital do outro.
Observar o amor caminhar,
Decifrar seus enigmas,
Decorar suas notas,
Cantar junto... Ou um para outro.
Ouvir,
Falar,
Tocar,
Simplesmente amar.
Acordar e sentir o amor ao lado.
Grudar nele e nunca mais soltar-se,

Envelhecer poeta com o coração inteiro.
Amado e amando
Ser o amor de alguém,
Ser alguém que inspira poesia,
E ser poesia de outro poeta.







Comentários