Se existe uma razão poética para a tristeza, acho que a descrevi bem. Porque antes a tristeza me assustava, me parecia inválida e destrutiva. Mas com o passar do tempo, ganhando intimidade com ela, resolvi observar o seu entorno e conteúdo. Percebi que a tristeza é como a noite, ela não vem de repente, vai escurecendo os poucos até ficar densa. Tem gente, que assim que percebe o entardecer da tristeza, já acende logo uma lanterna (pensamento positivo) ou uma tocha (boas lembranças) e tem gente que se arrisca a vagar no escuro, mergulha e se perde, se afoga. Um triste naufrágio.
Mas assim como a noite, a tristeza passa. E se esvai do mesmo modo como surgiu... Vai clareando, até ficar nítida, e logo o sorriso se descortina. Semelhante à noite, a tristeza é um período de reflexão. Porque ela te rouba de tudo, te tira de dentro de qualquer ciclo e te isola numa sala escura consigo mesmo. E te obriga a ouvir sua própria consciência, e ser aconselhado pelo próprio juízo. Ela te força a olhar pra dentro de você mesmo, é uma visão turva e dolorida, mas dá pra ver o que está fora do lugar. Por isso machuca, por isso aperta o coração. Porque seu maior confronto é contra você mesmo.
E sem dúvida a tristeza prepara a terra para a felicidade. Pode observar que depois de toda onda de tristeza, vem uma felicidade intensa, uma coisa envolvente que impreguina risos por coisa boba. Parece bobagem, mas a felicidade será mais intensa quando você descobrir que as folhas da tristeza de vez enquando são sopradas de propósito, para cobrirem o solo do teu coração. Elas vão se desidratar e apodrecer, servindo de adubo para fertilizar a terra. E quando tudo isso acaba, você olha direito e vê a felicidade brotando, crescendo, florescendo, e dando frutos. Só não se esqueça que a felicidade é uma árvore. Cujas folhas são de tristeza para fertilizar a terra antes de germinar novas sementes de felicidade.
Tudo foi feito para se completar.
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