ZÉFIRO 2

A inspiração fria veio,
Pelo mesmo motivo,
Só que antes tinha graça,
E agora está tão feio.
Sem o vento furtivo,
Que me envolveu na praça.

Agora só há uma névoa densa
Cobrindo os nossos momentos,
Apagando devagar um a um.
Não sinto mais tua presença.
Folheie todos os pensamentos,
E a dor entre eles é comum.

O tempo apagou sua luz,
Ou alguém cortou a fiação?
Pois tudo em mim escureceu,
Não tem nada que reluz
No breu da frustração,
De quem o amor conheceu.

Uma cidade fantasma, sou
Varrida dos mapas de busca.
Sou uma ruína adormecida,
Tocada pelo vento que passou.
Brilho que se ofusca,
Num adeus sem despedida.

O gosto é amargo e sofrido,
Pra quem nunca amou livre
E esteve atado por defeito.
Culpa de um burro cupido 
Que errou de calibre,
E fez um rombo no meu peito.

Meu riso é um entardecer,
Avermelhado de saudade, 
Com nuvens de tristeza.
Sem vontade de amanhecer, 
Dormindo na eternidade 
De uma estranha fraqueza.

E o vento que me soprava 
Me deixou no tormento,
Deveras nunca foi meu
Aquele que eu amava,
Com meu amor desatento
Que de mirrado logo morreu.

E no lugar do seu abraço
Eu fiz um muro de concreto,
E meu coração cerquei.
Onde tinha muito espaço,
Plantei amor-secreto
Era perfeito, mas eu mudei.

Não sinto mais nada
O ar está ficando rarefeito,
Meu mundo virou ao inverso.
Ficou gótica a poeta apaixonada,
Perdeu-se a causa e o efeito,
Que compunha meu verso.

Vi meu amor me desamar,
Numa frase curta e fatal.
Dois verbos de tortura...
Um “estava” fez lagrimar,
Mas o “Envolver”  foi tal,
Como asfixiar a criatura.

Não provarei mais o chocolate
Que tem os beijos de tua boca.
Nem sentirei mais teu cheiro.
Desfiz-me do batom escarlate...
E sobrou em mim coisa pouca,
Desse amor torto e passageiro.






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