CONFISSÕES DE UM POETA


Quando estamos em um lugar alto sentimo-nos donos do que está embaixo. Pela sensação que temos de poder abraçar tudo o que naquele momento nos enche os olhos.
Um misto de liberdade e poder, que nos faz desejar um par de asas. E se as tivéssemos talvez não iriamos tão longe, por medo ou falta de experiência. Alguns de nós alçaria voos apenas para ir daqui-ali convidar outro alguém com a mesma coragem de desafiar os céus, e juntos pode ser que n
se animem a ir longe, cortando o horizonte com gargalhadas estrondosas como fozem os pássaros. Mas por hora todos os homens que eu via simplesmente estavam pousados, cada um no seu oculto claro ou obscuro fitando o crepúsculo avermelhado que selava a linda Belo Horizonte.

A natureza ali, quieta também assistia o findar de um dia já com a promessa de outro por vir. E cada tronco ou galho embalado pelo vento estava cheio de histórias e poesias para contar - se fossem capazes. As árvores do Mirante testemunharam tantos beijos apaixonados, tantos casais românticos, tantas crianças birrentas ou hiperativas.  Tantos sorrisos e poses para inúmeros tipos de câmeras. Já formam coadjuvantes de fotografias e vídeos, confidentes de lágrimas e murmúrios de emoção que se poderiam publicar uma coletânea com mais páginas do que as folhas que possuem.

 A natureza também observa o homem talvez com admiração maior que a deles por ela. E o homem visita a natureza e extrai dela apenas o que lhe é necessário, os troncos, as folhas, os galhos, a seiva, a sombra, a inspiração para suas poesias, suas musicas, suas histórias, suas lendas, e suas crônicas deixando só a lenha ou o bagaço. Enquanto a natureza oferece o melhor de si, os frutos, o frescor, a cor, a vida, o calor, os enigmas, a química da estética e farmacêutica.  Sempre afônica, observando até onde somos capazes de querer o que ela tem, sem nos doar um pouco...Não muito, de semente em semente já è o bastante para perpetuar “o verde-louro dessa flamula”.

Eu não fui ao Mirante para ver a cidade do alto, eu fui para a cidade me ver e me assoprar no ouvido algum verso que valesse a pena escrever. Olhei fundo nos olhos do horizonte, e ele apenas suspirou ou bocejou anunciando o seu sono. A minha caneta tinha sede de beber palavras vindas daquele lugar, já estavam a me negar o sol enquanto as luzes amareladas aos cantos iam se acendendo.

E uma árvore me sorriu, acessou com os galhos, e entre o verde fulvo de suas folhas me mostrou o que talvez foi o último raio de sol daquela tarde sabática. Tomei assento de frente para ela, sobre um corte retangular de concreto esculpido para ser um banco, e contemplei a poesia gratuita que Deus entitulou como "Vida" e deu fôlego aos seus versos humanos, sensíveis e racionais. Versos humanos sorridentes, de mãos entrelaçadas ao amor ou a prole. Versos humanos entretidos com a magnífico cordel do entardecer.

E ali diante dos meus olhos, eu vi Deus pedir licença à suas criaturas com um sopro gentil que me saciou a alma. E cordialmente fechou as cortinas do céu, escondendo o sol por detrás do rubro tecido do anoitecer.


 _______________ A. Hanuc
Escristo em 17/12/2016;
Mirante do parque das Mangabeiras,
Belo Horizonte - Minas Gerais

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